Era uma noite de quarta, daquelas que a gente não espera nada, quando o garotão me ligou.
- Vamos dar uma saidinha?
Eu sabia muito bem o que ele queria dizer com isso. E sabia muito bem o que ele queria com isso também.
Bem, não estava fazendo nada. Então… Porque não? Aceitei, e às 8 em ponto, o carro do garotão já estava na frente da minha garagem. Óbvio que eu ainda estava de toalha na cabeça e creme na cara. Mas como minha mãe sempre diz: Quando o cara quer comer, e sabe que vai comer, nada o aborrece. (Minha mãe realmente diz isso!)
Sem pressa, terminei de me arrumar e finalmente saímos. Fomos primeiro num restaurante que já era velho conhecido meu. Jantar agradável, com a companhia perfeita. Sabe, ele era um cara que eu estava realmente interessada, diga-se de passagem, isso é difícil. Sempre acho as pessoas um tanto quanto “mais-ou-menos”, mas ele não. Ele era mais!
Era como se o carro estivesse no piloto automático, depois que o jantar acabou, ninguém precisou falar nada, quando vimos, o carro já estava entrando no Motel.
Ele escolhera um quarto com vaga privativa. Prefiro, evita o momento de olhar para a recepcionista, que você sabe que interiormente te olha e diz: “Háá, alguém vai se dar bem!”
Enquanto subíamos as escadinhas, conseguia sentir que a noite ia ser boa. Mas além disso, também sentia outra coisa. E essa coisa era uma enorme e imensa vontade de cagar.
Inferno! Tinha que ser ali? Naquela hora? Naquele momento? Com aquele cara?
Entramos no quarto, e fui logo dando uma espiadinha ao banheiro. Não entendo porque quarto de Motel às vezes possui paredes de vidro entre a cama e o banheiro. Não é visualmente agradável, e nem a acústica ajuda. Ainda mais na minha atual situação.
Para a minha sorte, o banheiro era afastado da cama, e com uma bela e grande parede branca dividindo. Joguei o boy na cama, liguei a rádio na estação de sex music que só os Motéis tem, e quando ele já achava que a brincadeira ia começar, disse que iria no banheiro para voltar bem gostosa para ele.
Homens são facilmente enganáveis. Qualquer coisa que você fale para eles que contenha “gostosa” ou “deliciosa”, é imediatamente aceita sem contestação alguma.
Não costumo demorar muito no banheiro, e ainda bem isso não seria um problema. Fiz o que tinha que fazer, e fui dar descarga.
A descarga não funcionou!
Tentei mais uma, duas, três… vinte e sete… quarenta e cinco vezes. É, definitivamente a descarga não estava funcionando. Ok, e agora? Quais opções eu tinha?
a) Fazer a noiva: Lotar a privada de papel higiênico. b) Dar um grito e falar “Nossa, deixaram um presente na privada para a gente” e sair rindo. c) Não fazer nada, e torcer para ele não ir ao banheiro.
Enquanto pensava qual seria a melhor escolha, notei um buraco, uma entrada (ou saída, vai saber) em cima da privada. Era um buraco, parecia uma saída de ar, e aposto que me salvaria.
Catei a evidencia do ocorrido com bastante papel higiênico e desovei tudo ali. Atolei o mais fundo possível, e saí linda e leve do banheiro.
A noite foi maravilhosa, como já era esperado, mas como acordávamos cedo na sexta-feira, não nos demoramos muito.
Vestimos nossas roupas, e descemos para a garagem. Quando já estava entrando no carro, ele aponta para o capô e exclama: - Que isso???
Em poucos segundos deduzi tudo:
Merda! Era isso. Exatamente isso!
O tal buraquinho dava para a garagem, mais precisamente para o carro do homem dos meus sonhos, e que agora encontrava-se todo cagado. (o carro, não o homem!)
Merda! Merda! Merda! Mil vezes merda!
- Não acredito. É bosta! - Calma, deve ter sido algum gato, não sei. Vamos embora, eu limpo.
- Você limpa? Tá louca? Você não vai sujar suas mãos. - Não esquenta. A noite foi tão boa, né? Deixa isso pra lá. - O meu carro foi cagado e você quer que eu deixe pra lá? - … - Vou chamar o gerente dessa joça. - O QUE??
Chamar o gerente não. Aquilo já estava indo longe demais. Sem gerente. Pelo amor de Deus. Sem chamar o gerente!
- Não precisa. Vai se estressar por causa de um coco? - Vou! Por causa de um coco em cima do meu carro!!
É, não teve jeito, ele realmente chamou o gerente.
Eu queria morrer. Juro que eu queria ter um ataque e cair durinha ali. Em cima do coco! O gerente chegou e já levou umas cinco pedradas do boy. Ele estava furioso. Furiosíssimo.
- Não posso admitir que uma coisa dessas aconteça. O meu carro está cagado. Completamente cagado! - Mas isso é impossível, ninguém entrou aqui.
E lá se foram 20 agonizantes minutos de uma discussão que eu sabia que não chegaria a ponto nenhum. Até que certa hora, meus ossos gelaram. O boy olhou para cima e disse:
- Ali ó, aquela saída dá diretamente para o meu carro. Quem tiver feito isso, fez por ali. - Mas senhor, aquela saída é do banheiro da suíte de vocês. - Tá querendo dizer que eu caguei no meu próprio carro? - De modo algum. Estou sem entender a situação, tanto quanto vocês.
Não agüentava mais aquela situação. Eu queria chorar, eu queria rir, eu queria gritar, eu queria sumir dali a nunca mais voltar. Como uma espinha sendo estourada, eu explodi:
- FUI EU!!!
Recebi os olhares mais incrédulos que alguém poderia receber. Meu agora ex-futuro-qualquer-coisa me
olhava sem conseguir acreditar em tal confissão. O gerente, safado, deu uma risadinha e se retirou,
deixando-me na situação mais merda da minha vida. Literalmente.
Entramos no carro ainda sujo de merda, e fomos embora sem trocar uma palavra.
Passamos o caminho inteiro no silêncio absoluto.Como sempre cavalheiro, ele me deixou em casa e
depois seguiu seu caminho.
Vi o homem da minha vida virando a esquina, com seu carro cagado, e sabia ali, que nunca mais o veria.
Alguns anos já se passaram desde essa história, e eu nunca mais tive notícias dele. Poxa, tanto rancor só por causa de uma cagadinha?
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